ARTIGOS DE OPINIÃO

Servidão Voluntária

07-10-2011 22:25
  Excertos Servidão Voluntária   Todos os males decorrem da perda da liberdade. Sem esta, todos os bens perdem o gosto e o sabor, corrompidos pela servidão. Etienne La Boétie na sua obra define três tipos de tiranos; ·         O...

Durante as férias de Verão gosto de passear

07-10-2011 22:23
  Entre vales, montanhas e rios Durante as férias de Verão gosto de passear, descobrir e explorar com os meus filhos lugares novos ou ainda revisitar locais onde não vou à muito. Foi o que aconteceu num dos últimos dias de Agosto, um dia de sol bem quente parti com a merenda aviada num...

A diferenciação Pedagógica

07-10-2011 22:17
  Num mundo global em que a sociedade é cada vez mais diferenciada, onde coabitam, classes, culturas, valores, tradições e crenças de vária ordem, assistimos a uma exigência constante, em que apesar das diferenças, tudo está organizado para uma acção de tratamento igual para com os...

 

A perspectiva de um formando

“O Programa Nacional do Ensino do Português (PNEP), iniciado no ano lectivo 2006/07, procurou responder ao desafio e à necessidade de melhorar o ensino da língua portuguesa no primeiro ciclo da educação básica, particularmente nos níveis de compreensão de leitura e de expressão oral e escrita.”

In “https://www.dgidc.min-edu.pt/linguaportuguesa/Paginas/PNEP.aspx

A necessidade de melhorar o ensino do Português na educação básica está solidamente fundamentada nos resultados de todos os projectos internacionais em que Portugal participou (Reading Literacy - IEA, 1992, PISA 2000; 2003), nos estudos nacionais (A Literacia em Portugal, 1995), nas provas nacionais de aferição (2000 a 2005) e, mais recentemente, nos exames nacionais do 9.º ano (2005). Em reforço da premência da tomada de medidas urgentes que melhorem os desempenhos dos alunos em competências referentes ao domínio da língua materna, assinalam-se os objectivos referenciais (benchmarks) estabelecidos para a União Europeia, na Cimeira de Estocolmo de 2001, que apontam para a urgência do decréscimo de maus leitores de 15 anos para valores de 15.5% em 2010.

Foi nesta conjuntura que uma excelente equipa dos melhores académicos nacionais, a nível das didácticas da Língua Portuguesa, desenvolveram um plano de formação para professores do primeiro ciclo. O objectivo: o aumento das competências dos alunos em fase inicial de formação na disciplina de Língua Portuguesa, a nível da leitura, compreensão de textos, expressão oral e escrita.

O Programa contemplava uma vertente de formação em rede regida por três grandes princípios:

  • A formação dos professores é centrada na escola ou no agrupamento de escolas;
  • A formação dos professores visa a utilização de metodologias sistemáticas e de estratégias explícitas de ensino da língua na sala de aula;
  • A formação dos professores é regulada por processos de avaliação das aprendizagens dos alunos ao nível individual, da classe e da escola.

No Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal um grupo de professores empenhou-se numa formação, que em princípio deveria decorrer ao longo de dois anos lectivos. Contemplaria uma componente teórica, ministrada pela figura, entretanto criada, de um Formador Residente, e uma componente iminentemente prática, constituída por uma dezena de aulas, com cerca de 60 minutos cada e que decorreriam em diferentes turmas do 1º Ciclo. Estas seriam aulas assistidas e avaliadas pelo Formador. No final seria ainda elaborado um portfólio onde se descreveria o trabalho desenvolvido e se reflectiria sobre o mesmo.

Habituado a tantas formações, onde se despejam teorias e cujo resultado pouco ou nada altera e pouco ou nada acrescenta à nossa prática educativa, fiquei deveras bem impressionado com o projecto. Foi com o intuito, alterar a forma de ensinar/aprender a língua materna, de transportar para a sala de aula o manancial didáctico e metodológico, proporcionado pela formação, orientada por um professor orientador, que me levou a participar neste projecto e a participar na formação.

Descobri imenso, constatei que havia aspectos a que não dava a devida atenção ou julgava menores no acto de ensinar o português, a consciência fonológica é um desses aspectos, e para os quais não estava o suficientemente sensibilizado. A formação constituiu assim uma real mais valia no meu percurso e valorização profissional.

Mas o advento de cada ano lectivo traz-nos sempre surpresas. Entre outras, o cancelamento da formação em Língua Portuguesa. O projecto de primordial importância na melhoria do ensino da língua materna, foi assim apresentado pelo douto Ministério da Educação aquando da sua implementação, afinal não era assim tão importante! Formaram-se possivelmente umas centenas de “Formadores Residentes”; nessa altura devia haver dinheiro! Deixaram-se milhares de professores a meio do seu percurso formativo; pelo menos algo ficou para a posteridade!

E assim vamos nós, de projecto em projecto, de reforma em reforma, de ideias avulsas, de acções pontuais nascidas em cima dum qualquer joelho, nesta estrada escura dirigidos pelos iluminados do costume.

 

“O que me conforta é ser tudo em nome de uma economia saudável, sem défice e onde todos seremos felizes!!!”

 

                                                                                           Abel Gonçalves

 

 

 

LEITURA DE PRAZER NO JARDIM DE INFÂNCIA

 

 Quando penso num livro para crianças, é entre as mãos afagantes de meninos que o percepciono. É nesta perspectiva que ele se torna centro das minhas reflexões.

   Falar em nome da criança, pressupõe que nos questionemos sobre o que lhe damos a beber nos reservatórios de sonhos de papel, portadores da seiva da vida, essência espessa absorvida pelo pensamento da criança.

    Quando por ela vivenciado, o livro recupera os sentidos, deixa-se ficar em presença, disponibiliza o seu potencial e repara as desventuras da vida, apazigua e propõe viagens deambulantes. Este livro ainda existe.

    Nos livros está tudo. Não apenas fadas, gnomos, princesas e bruxas... também lá está a criança com todas as suas alegrias, as suas preocupações, e os seus desejos. O livro é para a criança como que uma arca de surpresas, cada uma com a sua forma, recheada de cores imaginárias que lhe moldam a imagem do mundo, de um mundo que existe e que guarda só para si.

Como entrar nesse mundo?

Se há uma educação para os valores, também ela existirá para o gosto pela leitura.

   A leitura nasce no berço. Desde a mais tenra idade que a criança reage às palavras de sua mãe. A leitura implica assim uma relação íntima entre a pessoa que lê e a criança que escuta. É um conjunto que prende a criança ao adulto e que também a prende ao texto escrito. Este é o principal objectivo desse encontro. Pode dizer-se que o importante é dar à criança o prazer de ouvir uma história que lhe agrade.

 Quem é que não se recorda dos seus tempos de criança e de o aconchego da lareira, onde a família reunida contava coisas que encantavam os mais novos. Eram histórias de ladrões, de bruxas, de lobisomens, que nos deixavam curiosos e ao mesmo tempo com medo desse mundo enigmático.

   Actualmente perdemos esses fantásticos momentos, a transmissão de saberes através da oralidade e da comunicação presencial da família, desfez-se com a vida agitada e com a predominância das novas tecnologias.

   Cabe ao educador, visto ser a pessoa que lida com as crianças, após a sua primeira separação da família, fomentar e incentivar o gosto pela leitura e pelos livros.

 

Parafraseando Manuel António Pina:

 

“ Como é possível ser criança sem livros?

Sem partir, sem ter o coração cheio de nomes e de países?”

 

   Na idade pré-escolar (dos três aos seis anos) a criança começa por valorizar o livro pelas imagens que este lhe oferece.

   A criança lê pelas imagens, dá-lhe uma sequência narrativa, a sua atenção permite-lhe fixar as imagens, personagens e formas, elementos que vão ser preciosos no momento da iniciação à aprendizagem da leitura e da escrita.

   As crianças gostam de contar histórias a partir dos desenhos e isso traz-lhe um enorme desenvolvimento na capacidade de se expressarem pela palavra, abrindo caminho para uma boa expressão escrita. Assim desde muito pequena, a criança aprende a virar as páginas, a olhar a página da esquerda e só depois a da direita e isto é importante quando depois começa a enfrentar o texto escrito. Além disso liga-se afectivamente ao objecto – livro, porque este lhe oferece uma situação de prazer sem obrigações que a desmotivem.

   Aqui o Educador tem um papel importante, no estabelecer uma ligação afectiva da criança com o livro. Ela aprenderá a usá-lo de forma diferente e chegará à leitura e à escrita em clima de alegria e entusiasmo. Esta será a melhor altura para que isso aconteça. Como refere Alexandre Castro Caldas, há períodos da vida em que o cérebro está apto a adquirir funções. Refere ainda que aprender a ler a partir dos seis anos será o ideal, pois a aquisição da leitura dá-se de modos diferentes mediante a idade, ou seja na idade adulta processa-se de forma diferente do que em criança.

 Partilhar o livro com a família é uma das melhores práticas a ter na relação criança – livro.

      Este trabalho assenta em estreitar laços afectivos com o acto de ler e facilitar a criação de hábitos de leitura, envolvendo os pais e outros familiares próximos nesta actividade.

   Desta forma a criança partilha com a família, o sonho, a fantasia, todo o deslumbramento que experimenta ao ouvir histórias lidas pelos pais ou pelos avós.

   Este momento tem que ser gratuito, como acontecia nas infâncias mais antigas, onde se lia pelo prazer que a leitura suscita, vincando mais as relações pessoais, estabelecendo de uma forma íntima e sistematizada momentos de autêntica ludicidade e reunião familiar. 

      A primeira estratégia para incentivar na criança o gosto pelos livros e pela leitura, é ler, ler...

 Que histórias ler?

 Histórias com poucas palavras e muitas imagens, livros com mais texto e menos imagens, texto em prosa, em poesia, banda desenhada...

 O importante é corresponderem ao gosto das crianças. Quero dizer com isto, que é de evitar a imposição de livros de histórias que as crianças não gostem.   

   Ao terem oportunidade de lidarem com os livros, as crianças farão elas a sua própria selecção. Por vezes escolhem várias vezes o mesmo livro. A leitura repetida do mesmo livro só traz conveniências, porque a criança se sente feliz ao poder antecipar os acontecimentos da história e, ainda, por ser capaz de fixar as características das personagens.

 As Áreas de Expressão são sem dúvida um bom suporte para a exploração do livro. A expressão dramática, a música, a expressão plástica, permitem ao Educador entrar de uma forma especial na aventura que é explorar o livro no seu todo. Refiro-me por exemplo ao dramatizar uma história, ao ler com um fundo musical ou criar uma canção relacionada com o conteúdo do livro e ao fazer fantoches dos personagens da história.

 Estas estratégias permitem a obtenção do retorno da mensagem que ficou, através do contacto com o livro e a recriação de livros feita pelas crianças.

 Fazer um livro é sem dúvida uma actividade divertida e pedagógica. Quando se lê ou conta uma história fica sempre um espaço para a participação da criança, espaço esse que lhe permite continuar, ou alterar a história.
   Esses acréscimos trazem nova graça à história já contada e recontada.

   É assim que se pode iniciar a aventura de construir um livro, reunindo palavras, desenhos e diversos materiais: tecidos, esponjas, cartolinas, materiais de desperdício, papel reciclado no Jardim de Infância etc.

    Desta forma as crianças constroem os seus próprios livros, nascidos do entendimento da história original feita por elas e com toda a fantasia impregnada.

   Assim todos terão a alegria de construir livros e aprenderem a olhá-los com olhares mais profundos

 Em jeito de reflexão é de concluir que um bom leitor se forma no berço como já referi. Qualquer criança tem condições mais favoráveis a adquirir o gosto de ler, se vive num ambiente onde o recurso ao livro entrou com naturalidade, no conjunto dos hábitos quotidianos.

   A escola não pode alhear-se do papel fundamental que lhe cabe neste domínio.

 Tenho que referir que há vinte e cinco anos atrás, não existiam televisões nem computadores nas salas do Jardim de Infância e que o principal instrumento de trabalho era o livro.

   Continua a reconhecer-se como insubstituível.

 

MAGFA

  

 

 

Educação. Quo vadis?

 

Este título, dado a este pequeno artigo, uso-o pelo motivo do constante ziguezaguear dos políticos do nosso burgo à beira-mar plantado.

Entristece-me o facto de não se vislumbrar um fio de rumo nas políticas educativas, um pacto de regime, um objectivo nacional, enfim, uma ideia aglutinadora para o futuro do ensino.

Parece que é tudo decidido, implementado e operacionalizado “em cima do joelho”, sem perspectivar e analisar os dados. O que será, será…

Dou o exemplo da formação de professores. Mais concretamente ao nível da formação em Língua Portuguesa, perspectivada para a inovação metodológica e de práticas pedagógicas.

Ao arrepio da importância deste programa, consubstanciado na melhoria dos indicadores no nível de desempenho dos alunos, e com a justificação da redução de custos, o Ministério da Educação decide unilateralmente terminar todo um trabalho montado por alguns dos melhores académicos ao nível das didácticas da língua materna e operacionalizada no terreno por instituições de ensino superior e formadores.

Mas termina-se assim… sem uma análise profunda dos resultados, sem ouvir formandos, escolas e todas as instituições envolvidas neste programa, designado de PNEP.

Temos que reduzir os gastos. Sem dúvida, não poderia estar mais de acordo. Mas, então sejamos sérios e poupemos onde devemos poupar, economizemos onde devemos economizar.

Mas o discurso deve ser sério, e dizer olhos nos olhos de todos os Portugueses as verdadeiras intenções, ao contrário da permanente tentativa de iludir e esconder o sol com a peneira.

O que me preocupa, e muito, é que este é um pequeno exemplo do atabalhoamento e desorientação que grassam pela 5 de Outubro. Muitas das medidas que têm sido tomados ultimamente têm tido o condão de serem tomadas, assim, de forma unilateral, sem olhar às consequências e depois implementadas com pouco planeamento e sem calendarização séria e adequada.  

Para onde vais Educação…

 

António Marques